DE ONDE PARTE A SUA FLECHA?

Uma flecha sempre parte de algum lugar. É preciso estarmos inteiras, presentes e confiantes para que sejamos arcos dos nossos sonhos e metas. Esta é a imagem que sempre chega para mim quando invoco Ártemis. Deusa virgem, não por nunca ter tido relações sexuais, mas sim por ser “uma-em-si-mesma” (“Os mistérios da mulher”, da analista junguiana Esther Harding). Assim, carrega o arquétipo de um feminino que não precisa atrair a atenção, agradar, nem ser aprovado por um homem.

As mulheres que têm este arquétipo predominante ou, ainda, que vivem fases em que se identificam mais com Ártemis, podem até se relacionar, ter filhos, mas estas relações nunca serão o alvo da sua flecha, seu objetivo principal. A deusa da Caça e uma das deusas da Lua fala para nós de objetivo, força física, coragem, independência e sororidade.

Invocar Ártemis é trazer para si a concentração profunda de que quem não mexe um músculo e não olha para o lado quando está diante da sua presa. Mas também é defender quem está do seu lado. Principalmente, quando são mulheres mais jovens, desprotegidas e vulneráveis. Este arquétipo que reforça o ideal de uma mulher forte e livre do domínio masculino serve de grande inspiração para mulheres em geral, mas principalmente para as feministas. 

O ar juvenil, fresco e aberto a novas experiências, mesmo quando já estão mais velhas, é muito comum em mulheres identificadas com Ártemis. O passo rápido, o brilho nos olhos de quem consegue estar completamente presente, mas também que visualiza o alvo lá longe. A ligação com a natureza, com a floresta, que é seu habitat natural. Ártemis traz em si a habilidade da caça, inclusive na noite escura. A luz da lua basta para que ela se mova rápida e certeira. 

Muitas de vocês podem imaginá-la como uma Amazona e esta imagem de uma guerreira jovem, forte e corajosa tem tudo a ver com Ártemis. Enquanto descrevo esta deusa acima, lembro de uma outra imagem, de uma mulher madura e sábia, que foi minha professora e da Catarina no Curso de Saúde Integral da Mulher, a Fernanda Botelho. Fizemos uma longa caminhada de 5 horas pelas falésias e pela praia de Magoito, em Sintra, e encontramos Ártemis espelhada nesta mestra inspiradora.  

Ela, que estudou Botânica, Fitoterapia, Aromaterapia e Pedagogia, é também escritora de vários livros sobre plantas que curam. Olhos e ouvidos para todas as alunas, passo rápido que ninguém alcançava, nem as mais jovens, conhecimento profundo sobre as plantas. Empolgação ao provar e nos fazer experimentar também tudo de comestível que encontrava no caminho. Nenhum cansaço. Foco e muito prazer transbordam na forma que o corpo se movimenta, os olhos brilham, os lábios falam e riem. Prazer em estar viva, na natureza e passando o que aprendeu para outras mulheres. Lembro de nós nos olharmos umas para as outras durante esta aula a céu aberto e falarmos: “Fernanda é Ártemis!”.

Por Neusa Rodrigues

*Fonte: “As Deusas e a Mulher”, de Jean Shinoda Bolen

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