Carta a Héstia

Querida Héstia,


Saber-te dentro de mim, trouxe-me o fogo que necessitava para encontrar a minha alma. Descubro-a nos momentos em que, juntas, calamos as vozes do ego e nos entregamos a Kairos. O teu fogo é o centro, a casa. E regressar a ti é descobrir que todo este tempo a minha casa, o meu lar, sou eu, fui sempre eu.

Guardiã do fogo que nunca se apaga, sábia anciã. Houve um tempo em que eras tudo, mas os homens quiseram contar outra história. Para ti nada disso importa porque habitas um território sem tempo nem espaço, onde podemos simplesmente estar e ser. Respirar e assistir ao teatro da vida como observadoras curiosas que não julgam, não compartimentam, não aprisionam nem se deixam aprisionar.

Dizem que só podes estar em casa, que o mundo não é teu. Uma aparente armadilha na qual as mulheres se debatem há tanto, tanto tempo. Mas o tempo não existe. E o que está fora é apenas um reflexo do que vai dentro. Nós humanas, lutamos por ganhar o mundo mas esquecemos a tua lição. O mundo está dentro. O mundo está no teu fogo. Na tua lareira. E só o teu fogo, o fogo interno, aquele que se acende no nosso útero e vai directo ao coração nos pode fazer ser casa e ser mundo. Uma coisa de cada vez e tudo ao mesmo tempo. Entrega e Presença.

A minha alma está contigo, em ti. Todos os dias te agradeço e a vela que mantenho acesa é filha do teu fogo. Eu sou tua filha. Somos todas. Através de todos os invernos, de todos os infernos, a tua chama amorosa permanece. É fé, é esperança. É o calor que alimenta todas as minhas fraquezas e todas as minhas forças. São os filhos, a comida, o descanso depois da tormenta. O círculo onde todos têm lugar. A protecção e o impulso. O aqui e o agora. Como diz a Olga “o grande agora”. É esse. É isso. Gratidão!

Eternamente tua,

 Catarina

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