MULHERES INSPIRADORAS
Vê-la nos primeiros momentos de luta, nas ruas e espaços de discussões sobre o feminismo com sua figura firme, impaciente com o porvir. E depois, hoje, como uma mulher aparentemente tranquila, que tem consciência da importância da sua atuação para a história, ontem e hoje é realmente muito inspirador. Gloria sabe o quanto ainda falta ser construído, mas também sobre seu papel como mulher mais experiente, de ser história, caminho, apoio, exemplo. É uma anciã sábia, já no momento de receber o reconhecimento pelos seus feitos, que não deixa de ser farol e incentivo para as gerações de mulheres mais jovens que ainda precisam atuar na linha de frente das batalhas que existem.
Sobre o feminismo, traz metáforas, levanta que falam sobre a importância da integração das duas forças, do feminino e do masculino. Neste momento não fala de guerra entre duas partes, mas um voo conjunto. Separei duas das que mais gostei:
“Pensem na raça humana como um pássaro com duas asas. Sabem que, se uma asa estiver machucada ou quebrada, ninguém conseguirá voar. Estamos aqui esta noite para garantir que a raça humana possa voar’.
E ainda profetiza com otimismo:
“É possível que os historiadores se lembrem deste momento e digam que, pela primeira vez, o animal humano parou de se dividir de acordo com a diferença visível de raça ou sexo, e começou a procurar o real potencial humano que temos em nós. Antes de tudo”.
Senti muita vontade de partilhar isto numa roda de mulheres, de amigas e familiares, falar mais e mais sobre suas ideias e ações. Mas o que me mobilizou mesmo para trazê-la para este espaço do Tanto Mar foi o que Gloria falou sobre a importância e da força dos círculos, de sentar em roda. Sei como funcionam os grupos de mulheres feministas (ou, pelo menos, como deveriam funcionar) e também que a horizontalidade e a fala das mulheres são fundamentos básicos. Mas nunca tinha ouvido sobre o que sentimos em roda como a forma natural dos humanos se comunicarem ao longo da história, como uma ferramenta de democracia imediata. Com vocês, um pouquinho mais de Gloria Steinem:
“A simples ideia de ouvir e falar. Falar tanto quanto ouvir e ouvir tanto quanto falar. Balanceando as duas coisas, você tem uma democracia instantânea. O círculo é uma forma natural. Então, acho que se você está sentado em círculo, isso já faz diferença. E se, desde o início, a voz de cada pessoa for ouvida. Se você for ao menos uma vez pedindo para cada um dizer algo vocês se tornam um grupo, e isso é quase tão importante quanto o ar e a água.
Não ficamos sentados em volta de fogueiras por mais de 100 mil anos contando nossas histórias à toa. Está em nossa memória celular que esta é a forma como nos comunicamos. É assim que sabemos o que a outra pessoa está sentindo. No fim das contas, sabemos que entre nós deve haver conexões e não hierarquias.”
* texto por Neusa Rodrigues
* ilustração: primeira capa da revista Ms.de 1972 (mas tão atual!) que foi co-fundada por Gloria Steinem
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